Por Maria Regina Bianco Dourado - Advogada, mediadora e facilitadora de Círculos de Construção de Paz
Abordamos em nosso artigo anterior, publicado no site do Instituto Mediapaz, no dia 28/09/21 o importante papel da escola na prevenção do suicídio, principalmente no que tange à detecção precoce de vulnerabilidades e de situações que podem apresentar risco à saúde e integridade de crianças e adolescentes. Sabemos que se trata de um tema difícil e complexo, mas é necessário falar sobre ele, não somente no mês de setembro, mas durante todo o ano. Ressaltamos, ainda, a necessidade de disponibilizar no ambiente escolar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, além de fornecer espaços que propiciem o exercício frequente e regular do diálogo.
O Círculo de Construção de Paz apresenta-se como uma ferramenta de extrema utilidade para as escolas.
Cuida-se de um processo intencionalmente criado, que organiza o diálogo em grupo de uma forma estruturada, leve e muito eficiente, constituindo um importante espaço de expressividade, tão necessário nos dias atuais, fortemente marcados pela dificuldade de falar e escutar.
A metodologia, sistematizada por Kay Pranis*, alia tradições ancestrais a conceitos contemporâneos de democracia e de inclusão fundamentando-se em sete pressupostos centrais:
1. Cada um de nós tem um eu verdadeiro que é bom, sábio e poderoso.
2. O mundo está profundamente interconectado
3. Todos os seres humanos têm o desejo profundo de estar em bons relacionamentos
4. Todos os seres humanos têm dons e cada um é necessário pelo que traz consigo.
5. O poder de mudança está em nós mesmos.
6. Os seres humanos são holísticos.
7. Precisamos de práticas para criar hábitos e viver a partir de nosso eu verdadeiro.
Os participantes sentam-se em círculo, juntamente com um ou mais facilitadores capacitados, os quais estimulam o grupo através de perguntas norteadoras a construírem conjuntamente e, por consenso, valores e diretrizes, a partilhar histórias e tomar decisões (se este for o objeto do encontro). O diálogo é regulado pelo objeto da palavra, que constrói um fio de conexão na medida em que passa de mão em mão entre os participantes. Atribui-se àquele que estiver de posse do referido objeto, o direito de falar, de manter-se em silêncio e, até mesmo, passá-lo adiante sem nada dizer. As cerimônias de abertura e de encerramento marcam, respectivamente, o início e término do Círculo, convidando os participantes a estarem em um espaço/tempo diferenciado do cotidiano.
O Círculo de Construção de Paz trabalha todos os aspectos da experiência humana (espiritual, emocional, físico e mental), contribuindo para o desenvolvimento de diversas habilidades como a escuta, a empatia, o respeito, a cooperação, o acolhimento, a responsabilidade, a inclusão, a igualdade, o autocontrole, o foco, o reconhecimento e a partilha de emoções e sentimentos, entre outras.
Lembramos que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define o conjunto de aprendizagens que todos os estudantes brasileiros devem adquirir ao longo da escolaridade básica, concorrendo para assegurar o desenvolvimento de dez competências gerais, somando-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral.
Para o escopo deste artigo destacamos as competências 8, 9 e 10, a seguir transcritas:
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
O Círculo de Construção de Paz efetivamente poderá contribuir para o desenvolvimento das competências acima mencionadas, representando uma poderosa ferramenta para o necessário exercício do diálogo, além de preparar todos os integrantes da comunidade escolar, sem exceção, para a construção e o fortalecimento de relacionamentos saudáveis e para uma convivência mais harmônica e pacífica.
Resgatar a capacidade de dialogar é urgente!
Em nosso próximo artigo falaremos sobre as etapas do Círculo de Construção de Paz e as habilidades trabalhadas em cada uma delas, bem como sobre as diversas situações em que sua utilização poderá ocorrer no cotidiano escolar.
*Kay Pranis é instrutora de Círculos de Construção de Paz e Justiça Restaurativa e autora de obras sobre o assunto. Atuou como planejadora de Justiça Restaurativa para o Departamento Correcional de Minnesota, EUA, de 1994 a 2003
Referências:
Base Nacional Comum Curricular- disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em 11/10/21
BOYES-WATSON, Carolyn; PRANIS, Kay. No coração da Esperança-Guia de Práticas Circulares. Tradução de Fátima De Bastiani. Rio Grande do Sul: Escola Superior da Magistratura da AJURIS, 2011
PRANIS, Kay. Processos circulares de construção de paz. São Paulo: Editora Palas Athena, 2019
Abordamos em nosso artigo anterior, publicado no site do Instituto Mediapaz, no dia 28/09/21 o importante papel da escola na prevenção do suicídio, principalmente no que tange à detecção precoce de vulnerabilidades e de situações que podem apresentar risco à saúde e integridade de crianças e adolescentes. Sabemos que se trata de um tema difícil e complexo, mas é necessário falar sobre ele, não somente no mês de setembro, mas durante todo o ano. Ressaltamos, ainda, a necessidade de disponibilizar no ambiente escolar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, além de fornecer espaços que propiciem o exercício frequente e regular do diálogo.
O Círculo de Construção de Paz apresenta-se como uma ferramenta de extrema utilidade para as escolas.
Cuida-se de um processo intencionalmente criado, que organiza o diálogo em grupo de uma forma estruturada, leve e muito eficiente, constituindo um importante espaço de expressividade, tão necessário nos dias atuais, fortemente marcados pela dificuldade de falar e escutar.
A metodologia, sistematizada por Kay Pranis*, alia tradições ancestrais a conceitos contemporâneos de democracia e de inclusão fundamentando-se em sete pressupostos centrais:
1. Cada um de nós tem um eu verdadeiro que é bom, sábio e poderoso.
2. O mundo está profundamente interconectado
3. Todos os seres humanos têm o desejo profundo de estar em bons relacionamentos
4. Todos os seres humanos têm dons e cada um é necessário pelo que traz consigo.
5. O poder de mudança está em nós mesmos.
6. Os seres humanos são holísticos.
7. Precisamos de práticas para criar hábitos e viver a partir de nosso eu verdadeiro.
Os participantes sentam-se em círculo, juntamente com um ou mais facilitadores capacitados, os quais estimulam o grupo através de perguntas norteadoras a construírem conjuntamente e, por consenso, valores e diretrizes, a partilhar histórias e tomar decisões (se este for o objeto do encontro). O diálogo é regulado pelo objeto da palavra, que constrói um fio de conexão na medida em que passa de mão em mão entre os participantes. Atribui-se àquele que estiver de posse do referido objeto, o direito de falar, de manter-se em silêncio e, até mesmo, passá-lo adiante sem nada dizer. As cerimônias de abertura e de encerramento marcam, respectivamente, o início e término do Círculo, convidando os participantes a estarem em um espaço/tempo diferenciado do cotidiano.
O Círculo de Construção de Paz trabalha todos os aspectos da experiência humana (espiritual, emocional, físico e mental), contribuindo para o desenvolvimento de diversas habilidades como a escuta, a empatia, o respeito, a cooperação, o acolhimento, a responsabilidade, a inclusão, a igualdade, o autocontrole, o foco, o reconhecimento e a partilha de emoções e sentimentos, entre outras.
Lembramos que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define o conjunto de aprendizagens que todos os estudantes brasileiros devem adquirir ao longo da escolaridade básica, concorrendo para assegurar o desenvolvimento de dez competências gerais, somando-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral.
Para o escopo deste artigo destacamos as competências 8, 9 e 10, a seguir transcritas:
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
O Círculo de Construção de Paz efetivamente poderá contribuir para o desenvolvimento das competências acima mencionadas, representando uma poderosa ferramenta para o necessário exercício do diálogo, além de preparar todos os integrantes da comunidade escolar, sem exceção, para a construção e o fortalecimento de relacionamentos saudáveis e para uma convivência mais harmônica e pacífica.
Resgatar a capacidade de dialogar é urgente!
Em nosso próximo artigo falaremos sobre as etapas do Círculo de Construção de Paz e as habilidades trabalhadas em cada uma delas, bem como sobre as diversas situações em que sua utilização poderá ocorrer no cotidiano escolar.
*Kay Pranis é instrutora de Círculos de Construção de Paz e Justiça Restaurativa e autora de obras sobre o assunto. Atuou como planejadora de Justiça Restaurativa para o Departamento Correcional de Minnesota, EUA, de 1994 a 2003
Referências:
Base Nacional Comum Curricular- disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em 11/10/21
BOYES-WATSON, Carolyn; PRANIS, Kay. No coração da Esperança-Guia de Práticas Circulares. Tradução de Fátima De Bastiani. Rio Grande do Sul: Escola Superior da Magistratura da AJURIS, 2011
PRANIS, Kay. Processos circulares de construção de paz. São Paulo: Editora Palas Athena, 2019