Maria Regina Bianco Dourado: conciliadora, mediadora e facilitadora de Círculos de Construção de Paz
Setembro é o mês mundial de prevenção do suicídio, também denominado de Setembro Amarelo. Trata-se de uma campanha que tem por objetivo conscientizar as pessoas acerca dessa temática tão complexa e multicausal, que tira tantas vidas todos os anos ao redor do mundo. O assunto ainda enfrenta preconceitos e falta de informação. Na realidade, o tema da morte é difícil de enfrentar, de modo geral, para a grande maioria das pessoas.
O movimento teve início nos Estados Unidos. Em 1994, Mike Emme, com apenas 17 anos, cometeu o suicídio. Mike possuía um Mustang 68 e o pintou de amarelo, passando a ser conhecido como “Mustang Mike”. No dia do funeral de Mike, uma cesta com cartões e fitas amarelas presas à eles foram confeccionados pelos amigos de Mike, estava disponível para quem quisesse pegar e continham a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda”. Logo depois, os cartões se espalharam pelos Estados Unidos e em poucas semanas começaram a aparecer cartas de adolescentes que buscavam ajuda. A fita amarela foi, então, escolhida como símbolo do programa que incentiva àqueles que têm pensamentos suicidas a buscar ajuda.
Em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 10 de setembro como o “Dia Mundial da Prevenção do Suicídio” e o amarelo foi a cor escolhida para representar o movimento.
No Brasil, o Setembro Amarelo é uma campanha promovida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).
Alguns dados estatísticos nos ajudam a verificar que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as últimas estimativas da OMS, publicadas no dia 17.06.21, no relatório “Suicide in the world” - Global Health Estimates (2019), figurando como um grave problema de saúde pública global. Em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio. Entre os jovens de 15 à 29 anos, o suicídio é a segunda principal causa de morte (Fonte: Organização Panamericana de Saúde).
No Brasil, segundo dados do Boletim Epidemiológico¹ divulgado pelo Ministério da Saúde em 2017, no período de 2011 a 2015 foram registrados 55.649 óbitos por suicídio, com uma taxa geral de 5,5/100 mil habitantes.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021², divulgado em julho de 2021, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelam que o número de suicídios no Brasil em 2020 foi de 12.895.
De modo geral, suicídios são planejados e as pessoas dão sinais. É fundamental reconhecer estes sinais e ofertar apoio e assim começar um caminho de superação do sofrimento. Falar sobre o assunto é extremamente importante justamente para que possamos reduzir o número de pessoas em vulnerabilidade.
Fatores de Risco
É preciso estar alerta aos diversos fatores que podem apresentar risco e aumentar as chances de alguém ter pensamentos e tentativas suicidas. Os transtornos mentais como: a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias, figuram como os principais, totalizando cerca de 96,8% dos casos de suicídio. Outros fatores desencadeantes são: a falta de vínculos sociais e familiares, as perdas, o estresse agudo ou crônico decorrente de negligência, abusos e violências diversas, os preconceitos como o racismo, o capacitismo, a gordofobia, a LGBTfobia, além do bullying e do cyberbullying, entre outros.
É preciso alertar, todavia, que a ocorrência pura e simples de algum ou alguns desses fatores, não acarreta necessariamente o suicídio. Cada ser humano é um ser único e reage a essas ocorrências de forma diferenciada.
A pandemia do novo coronavírus acarretou, por sua vez, o isolamento social, o luto, perdas e a mudança repentina da rotina das pessoas. Sendo assim, aumentou também a quantidade de quadros depressivos, do uso de álcool e de drogas, ansiedade, pânico, estresse e do chamado burn out.
E como as escolas podem atuar na prevenção do suicídio?
A escola ocupa um papel fundamental na prevenção do suicídio. Ela é um espaço de aprendizado universal e de socialização mais importante depois da família.
A escola integra o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, a ela incumbindo a proteção contra a violação de direitos das crianças e dos adolescentes. Ela se constitui em um ambiente no qual, em geral, são detectadas precocemente situações de risco ou vulnerabilidade, envolvendo crianças e adolescentes, podendo reconhecer, consequentemente, situações que exigem intervenção. Sabemos que alguns alunos vivenciam infelizmente, dinâmicas familiares disfuncionais e situações de violência cotidiana com abusos, negligência, preconceitos, bullying e cyberbullying.
Além disso, incumbe às escolas promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate à todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), de acordo com a Lei Antibullying n° 13.185/15 e também garantir a observância das competências da Base Nacional Comum Curricular, especialmente a de nº 9 que dispõe sobre o exercício da empatia, do diálogo, da resolução de conflitos e da cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Nesse contexto, quando pensamos em crianças e jovens, o ambiente escolar pode fazer toda a diferença na prevenção do suicídio e impactar, sobremaneira, na promoção de apoio emocional. O clima escolar saudável é essencial para todos os integrantes desta comunidade. É importante que todos se sintam pertencentes àquele espaço, valorizados e atendidos em suas necessidades, conectados uns com os outros e em relacionamentos saudáveis.
A escola precisa concentrar esforços, acima de tudo, nas ações de prevenção, sabendo identificar não somente comportamentos de risco que possam acarretar transtornos mentais, mas também oportunizar espaços seguros para que os alunos e demais integrantes da comunidade escolar possam desenvolver habilidades socioemocionais para nomear e expressar emoções e sentimentos, exercitar o diálogo, a cooperação, a escuta, a empatia e o acolhimento.
Todas essas ações acabam por contribuir para a gestão positiva dos conflitos que ocorrerem no contexto escolar e, também, para a diminuição do bullying e cyberbullying, situações graves e muito frequentes na escola. Saber administrar positivamente os conflitos cotidianos, através de práticas consensuais, com destaque à mediação, é tarefa primordial. Não basta, portanto, a ação isolada e pontual para os casos em que forem detectados problemas e situações de depressão, ansiedade, automutilação ou suicídio.
Todos na escola, sem exceção, devem estar atentos e vigilantes a sinais como a automutilação (infelizmente muito frequente entre os jovens), exteriorização, tanto na escola quanto nas redes sociais, da vontade de morrer ou praticar o suicídio, alterações repentinas no aprendizado e/ou rendimento escolar, comportamentos antissociais, entre outros. A família, sem sombra de dúvida, precisa estar engajada em todo esse processo.
Oportunizar espaços dialógicos frequentes na escola é fundamental, seja através de rodas de conversa, de Círculos de Construção de Paz ou da mediação de conflitos. A prevenção e as atividades voltadas para a prática do diálogo e da empatia devem ser exercitadas com regularidade a fim de preparar a comunidade escolar para o fortalecimento de vínculos, para a salutar convivência de todos e para a expressão democrática de opiniões e divergências. Assim preparada, essa comunidade estará fortalecida e em condições de também atuar nas situações conflituosas.
Finalizo com um convite para reflexão: como você pode contribuir para ajudar na prevenção do suicídio?
Devemos ter consciência do impacto de nossas ações. Somos seres profundamente interconectados e relacionais. Todas as nossas ações geram consequências, circunstância que remete à noção de corresponsabilidade. Pequenas ações cotidianas têm o potencial de fazer toda a diferença no bem-estar coletivo e na prevenção do suicídio, como por exemplo, a atenção, o carinho, a gentileza e a escuta sem julgamento.
Falar sobre a prevenção do suicídio é falar sobre o cuidado. Saber cuidar, segundo Leonardo Boff, deveria ser matéria obrigatória no ensino!
Referências:
1. Boletim Epidemiológico -Perfil epidemiológico das tentativas e óbitos por suicídio no Brasil e a rede de atenção à saúde. Ministério da Saúde. https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-Perfil-epidemiologico-das-tentativas-e-obitos-por-suicidio-no-Brasil-e-a-rede-de-aten--ao-a-sa--de.pdf. Acesso em 01/09/21.
2. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2021/07/anuario-2021-completo-v6-bx.pdf Acesso em 01/09/21
Setembro é o mês mundial de prevenção do suicídio, também denominado de Setembro Amarelo. Trata-se de uma campanha que tem por objetivo conscientizar as pessoas acerca dessa temática tão complexa e multicausal, que tira tantas vidas todos os anos ao redor do mundo. O assunto ainda enfrenta preconceitos e falta de informação. Na realidade, o tema da morte é difícil de enfrentar, de modo geral, para a grande maioria das pessoas.
O movimento teve início nos Estados Unidos. Em 1994, Mike Emme, com apenas 17 anos, cometeu o suicídio. Mike possuía um Mustang 68 e o pintou de amarelo, passando a ser conhecido como “Mustang Mike”. No dia do funeral de Mike, uma cesta com cartões e fitas amarelas presas à eles foram confeccionados pelos amigos de Mike, estava disponível para quem quisesse pegar e continham a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda”. Logo depois, os cartões se espalharam pelos Estados Unidos e em poucas semanas começaram a aparecer cartas de adolescentes que buscavam ajuda. A fita amarela foi, então, escolhida como símbolo do programa que incentiva àqueles que têm pensamentos suicidas a buscar ajuda.
Em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 10 de setembro como o “Dia Mundial da Prevenção do Suicídio” e o amarelo foi a cor escolhida para representar o movimento.
No Brasil, o Setembro Amarelo é uma campanha promovida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).
Alguns dados estatísticos nos ajudam a verificar que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as últimas estimativas da OMS, publicadas no dia 17.06.21, no relatório “Suicide in the world” - Global Health Estimates (2019), figurando como um grave problema de saúde pública global. Em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio. Entre os jovens de 15 à 29 anos, o suicídio é a segunda principal causa de morte (Fonte: Organização Panamericana de Saúde).
No Brasil, segundo dados do Boletim Epidemiológico¹ divulgado pelo Ministério da Saúde em 2017, no período de 2011 a 2015 foram registrados 55.649 óbitos por suicídio, com uma taxa geral de 5,5/100 mil habitantes.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021², divulgado em julho de 2021, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelam que o número de suicídios no Brasil em 2020 foi de 12.895.
De modo geral, suicídios são planejados e as pessoas dão sinais. É fundamental reconhecer estes sinais e ofertar apoio e assim começar um caminho de superação do sofrimento. Falar sobre o assunto é extremamente importante justamente para que possamos reduzir o número de pessoas em vulnerabilidade.
Fatores de Risco
É preciso estar alerta aos diversos fatores que podem apresentar risco e aumentar as chances de alguém ter pensamentos e tentativas suicidas. Os transtornos mentais como: a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias, figuram como os principais, totalizando cerca de 96,8% dos casos de suicídio. Outros fatores desencadeantes são: a falta de vínculos sociais e familiares, as perdas, o estresse agudo ou crônico decorrente de negligência, abusos e violências diversas, os preconceitos como o racismo, o capacitismo, a gordofobia, a LGBTfobia, além do bullying e do cyberbullying, entre outros.
É preciso alertar, todavia, que a ocorrência pura e simples de algum ou alguns desses fatores, não acarreta necessariamente o suicídio. Cada ser humano é um ser único e reage a essas ocorrências de forma diferenciada.
A pandemia do novo coronavírus acarretou, por sua vez, o isolamento social, o luto, perdas e a mudança repentina da rotina das pessoas. Sendo assim, aumentou também a quantidade de quadros depressivos, do uso de álcool e de drogas, ansiedade, pânico, estresse e do chamado burn out.
E como as escolas podem atuar na prevenção do suicídio?
A escola ocupa um papel fundamental na prevenção do suicídio. Ela é um espaço de aprendizado universal e de socialização mais importante depois da família.
A escola integra o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, a ela incumbindo a proteção contra a violação de direitos das crianças e dos adolescentes. Ela se constitui em um ambiente no qual, em geral, são detectadas precocemente situações de risco ou vulnerabilidade, envolvendo crianças e adolescentes, podendo reconhecer, consequentemente, situações que exigem intervenção. Sabemos que alguns alunos vivenciam infelizmente, dinâmicas familiares disfuncionais e situações de violência cotidiana com abusos, negligência, preconceitos, bullying e cyberbullying.
Além disso, incumbe às escolas promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate à todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), de acordo com a Lei Antibullying n° 13.185/15 e também garantir a observância das competências da Base Nacional Comum Curricular, especialmente a de nº 9 que dispõe sobre o exercício da empatia, do diálogo, da resolução de conflitos e da cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Nesse contexto, quando pensamos em crianças e jovens, o ambiente escolar pode fazer toda a diferença na prevenção do suicídio e impactar, sobremaneira, na promoção de apoio emocional. O clima escolar saudável é essencial para todos os integrantes desta comunidade. É importante que todos se sintam pertencentes àquele espaço, valorizados e atendidos em suas necessidades, conectados uns com os outros e em relacionamentos saudáveis.
A escola precisa concentrar esforços, acima de tudo, nas ações de prevenção, sabendo identificar não somente comportamentos de risco que possam acarretar transtornos mentais, mas também oportunizar espaços seguros para que os alunos e demais integrantes da comunidade escolar possam desenvolver habilidades socioemocionais para nomear e expressar emoções e sentimentos, exercitar o diálogo, a cooperação, a escuta, a empatia e o acolhimento.
Todas essas ações acabam por contribuir para a gestão positiva dos conflitos que ocorrerem no contexto escolar e, também, para a diminuição do bullying e cyberbullying, situações graves e muito frequentes na escola. Saber administrar positivamente os conflitos cotidianos, através de práticas consensuais, com destaque à mediação, é tarefa primordial. Não basta, portanto, a ação isolada e pontual para os casos em que forem detectados problemas e situações de depressão, ansiedade, automutilação ou suicídio.
Todos na escola, sem exceção, devem estar atentos e vigilantes a sinais como a automutilação (infelizmente muito frequente entre os jovens), exteriorização, tanto na escola quanto nas redes sociais, da vontade de morrer ou praticar o suicídio, alterações repentinas no aprendizado e/ou rendimento escolar, comportamentos antissociais, entre outros. A família, sem sombra de dúvida, precisa estar engajada em todo esse processo.
Oportunizar espaços dialógicos frequentes na escola é fundamental, seja através de rodas de conversa, de Círculos de Construção de Paz ou da mediação de conflitos. A prevenção e as atividades voltadas para a prática do diálogo e da empatia devem ser exercitadas com regularidade a fim de preparar a comunidade escolar para o fortalecimento de vínculos, para a salutar convivência de todos e para a expressão democrática de opiniões e divergências. Assim preparada, essa comunidade estará fortalecida e em condições de também atuar nas situações conflituosas.
Finalizo com um convite para reflexão: como você pode contribuir para ajudar na prevenção do suicídio?
Devemos ter consciência do impacto de nossas ações. Somos seres profundamente interconectados e relacionais. Todas as nossas ações geram consequências, circunstância que remete à noção de corresponsabilidade. Pequenas ações cotidianas têm o potencial de fazer toda a diferença no bem-estar coletivo e na prevenção do suicídio, como por exemplo, a atenção, o carinho, a gentileza e a escuta sem julgamento.
Falar sobre a prevenção do suicídio é falar sobre o cuidado. Saber cuidar, segundo Leonardo Boff, deveria ser matéria obrigatória no ensino!
Referências:
1. Boletim Epidemiológico -Perfil epidemiológico das tentativas e óbitos por suicídio no Brasil e a rede de atenção à saúde. Ministério da Saúde. https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-Perfil-epidemiologico-das-tentativas-e-obitos-por-suicidio-no-Brasil-e-a-rede-de-aten--ao-a-sa--de.pdf. Acesso em 01/09/21.
2. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2021/07/anuario-2021-completo-v6-bx.pdf Acesso em 01/09/21